segunda-feira, 12 de janeiro de 2009

Pensamento #3 - Razão

Decidi que preciso de uma Razão para viver. Não me interpretem mal, não estou a pensar em suicidar-me, nada disso. Mas preocupa-me que, face a uma adversidade inesperada, não consiga encontrar razões para continuar a lutar. Será isto resultado da imensa desgraça lida em livros? Muito provavelmente. Mas não vejo que mal poderá fazer-me ter uma espécie de objectivo. Afinal, qual é o sentido da vida? Suponho que, mais tarde ou mais cedo, todos acabam por perguntar isso a si próprios. A resposta não é universal. Seria engraçado, no entanto, acordar de manhã e ler no jornal algo como “FILÓSOFOS DESCOBREM O SENTIDO DA VIDA”, ou mesmo “CRIANÇA DE 5 ANOS DESLUMBRA POPULAÇÃO MUNDIAL AFIRMANDO TER DESCOBERTO A RAZÃO DE VIVER”. De facto, acredito que mesmo que o sentido da vida fosse igual para todos, não bastaria lê-lo no jornal, ou aprendê-lo na escola. Tenho cá para mim que é algo ensinado pela experiência e pelo crescente conhecimento de nós próprios e dos outros. Talvez, se não estivéssemos demasiado absorvidos noutras coisas, como os bens materiais (isto já começa a ficar uma frase feita), o descobríssemos mais cedo. Mas como ter a certeza? Não, isto é algo pessoal e que exige tempo.

No entanto, várias pessoas têm algo que as faz levantar de manhã. Já pensaram sobre isso? Porque é que se dão ao trabalho de sair do quentinho, do Vale dos Lençóis? Muitos responderiam que tinham um trabalho que fazer, pessoas à sua espera. Mas afinal, e se não comermos? E se nos recusarmos a mexer, até morrermos? Seria muito difícil, e a razão é simples: instinto de sobrevivência. Mas será apenas isso? Os pais cuidam dos filhos, os professores acarretam com a difícil tarefa de passar conhecimentos à geração mais nova, para que haja sempre quem o faça de novo. A vida é um ciclo: nascemos, crescemos, reproduzimo-nos, morremos, e por aí fora. É isto que nos ensinam no 5º ano, a definição de ser vivo. Aquele que nasce, cresce, se reproduz e morre. Não somos mais do que animais, animais racionais. Então qual é a diferença? Entre os racionais, os seres humanos, e os irracionais? Uma das diferenças é que nós podemos escolher. Podemos escolher morrer, embora essa não me pareça uma opção muito corajosa. Podemos escolher viver: a vida! É a maior dádiva que temos. A probabilidade de cada um de nós nascer era mínima, minúscula! Porque, então, fomos nós os escolhidos? Teremos alguma tarefa a desempenhar? Algo que o resto dos milhares de espermatozóides dos nossos pais combinados com o óvulo daquele mês da nossa mãe não conseguisse fazer? Ou acreditam no acaso? Será que todos acabamos por representar bem o nosso papel? E então e aqueles que morrem à nascença, ou em pequenos? E os que duram até aos 100 anos? Terá sido porque não fizeram o que tinham a fazer? Ou será que a sua missão é demonstrar que também é possível sobreviver a ver os nossos amigos e familiares morrer, os tempos mudar, e que é sempre possível fazer coisas novas, conhecer novas pessoas e ter novas ideias? Só eles o poderão saber, se é que alguém pode.

Mas também existem muitas pessoas que nunca se casam ou têm filhos, e ainda mais que não são professoras. Mesmo assim, cada pessoa acaba, quer queira ou quer não, por ser um exemplo. Não há maneira de negar que alguém existiu. Podem dizer o que quiserem, mas pelo menos a mãe há-de saber que esteve grávida, nem que pense ter tido um aborto espontâneo e o seu filho lhe ter sido, afinal, roubado (isto é possível? Não tenho a certeza).

Acredito que todos temos uma Missão. Só temos que a descobrir. Muita gente vive apenas para que outros possam viver. Ter alguém dependente de nós pode ser algo muito forte. Muitos dirão com certeza que a razão porque vivem é o seu gosto pela vida. Pelo divertimento, pela descoberta, por... Sei lá, comer chocolate! Esperar continuamente pelas férias, para poder passar o dia na cama, ou pelo Natal, ou para ver aquele sorriso na cara do filho ou do amigo, ou do pai orgulhoso.

Qual é a minha Razão? Não sei, ainda espero descobrir. Entretanto, parece-me que o objectivo mais lógico é continuar a estudar, a aprender o mais possível, tanto aquilo que me ensinam, como aquilo que observo. Aprender também a relacionar-me com os outros, se possível, num ambiente harmonioso. Seria fantástico dar um contributo palpável à humanidade, como uma grande ou mesmo pequena descoberta cientifica, ou um par de palavras proferidas que acabam por mudar a vida de alguém. Escrever algo que chegasse a publicar seria definitivamente gratificante. Mas, por continuar a viver, a levantar-me todos os dias, a falar com quem está presente na minha vida, já faço uma pequena-grande diferença na vida daqueles com que me cruzo, e, suponho, isso é o bastante por enquanto.

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